Os transportes aproximam as pessoas e fazem circular a riqueza integrando os diferentes espaços da ocupação humana. Alargam os horizontes e firmam identidades. Terra, água, ar e fogo dos motores. Quatro elementos unidos a várias rotas, para fazerem deste pedaço do planeta um País inserido no mundo”. Influenciado pelas palavras do médico e historiador paulista, Francisco Moreno de Carvalho, o diretor-presidente da Bandag do Brasil, Roberto Ducatti, acreditou então que “o conhecimento do passado impulsiona o futuro”. Daí que o executivo, utilizando-se dos recursos da Lei Rouanet de incentivo à cultura, deu luz, pela primeira vez, a uma obra que conta a história dos transportes, desde o período colonial até julho de 2003: ‘Transportes no Brasil - a opção rodoviária” (Editora Marca D’água, 160 páginas), organizado pela socióloga Margarida Cintra Gordinho. A obra foi lançada, em grande estilo, durante o 14º Salão Internacional do Transporte (Fenatran), finalizado na segunda quinzena de outubro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, na capital paulista.

O livro é um exemplo de bom gosto, no que tange à perfeição da edição (papel, capa, fotos, reprodução de manuscritos e ilustrações), e um exemplo de estudo minucioso da história do transporte, abordando os sistemas aéreo, ferroviário, fluvial e rodoviário, uma vez que a organizadora, autora de vários livros e conhecida do meio intelectual, se esmerou em produzir um trabalho (que, na verdade, é do tamanho do Brasil!) em benefício da cultura, sem fins lucrativos — o livro teve uma tiragem inicial de dois mil exemplares que serão distribuídos para as bibliotecas públicas, entidades do setor de transportes e outras empresas.

Com uma abrangente e bela introdução, “Sistema de transportes: o novo desenho do País”, Margarida prova que a circulação de pessoas e de mercadorias gerou riquezas ao Brasil, o que impulsionou Juscelino Kubitschec a mudar o centro do poder do Rio de Janeiro para Brasília para dar cabo a uma de suas mais importantes iniciativas: a indústria automobilística e as novas estradas. E com a mesma fidedignidade à história, a autora discorre sobre “Mar e rios - histórias de navegação”, “Trilhos e vagões — a extração da produção”, “Asas no ar — integrando o País” e “Opção rodoviária — das mulas aos caminhões”.

Todos os capítulos com textos profundos e bem escritos, que realçam ainda mais a beleza das fotografias antigas, como Getúlio Vargas, que integrou o País, a Transamazônica, a estrada de ferro Madeira-Mamoré, o Zeppelin, caminhoneiros e frases de caminhões. A obra é indicada para quem tem apreço ao segmento, para objeto de pesquisa de estudantes e para quem, simplesmente, movido pelo hábito cultural, quer conhecer a história dos meios de transporte que ergueram o Brasil. “Construir um País é, em grande medida, delinear seus rumos e viabilizar seus caminhos. Não apenas no sentido de planejar metas ou promover o bem-estar e a segurança de seus cidadãos. Mas, também, de abrir estradas pelas quais as pessoas se moverão e por onde as riquezas poderão circular”, diz a autora no livro.