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Campinas-SP

 


ENTREVISTA

 

SÍLVIO SAIDEMBERG  

"A grande tarefa do desenvolvimento é buscar ser a melhor pessoa possível em relação a si próprio”


10 de outubro é o Dia Mundial da Saúde Mental, data que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reservou para debater as questões ligadas ao tema. A entidade estima que 450 milhões de pessoas são atualmente afetadas por desordens mentais e neurológicas, sendo que milhões nunca buscarão ou receberão tratamento. Em várias regiões do Brasil, já não são mais as doenças infecciosas os maiores problemas sanitários, e sim as doenças crônico-degenerativas e as mentais que representam o maior fardo social e econômico, segundo estudos da OMS. Em Campinas, o psiquiatra Silvio Saidemberg, com 34 anos de psiquiatria, está se dedicando ao trabalho de consultoria em sistemas de saúde em várias partes do país, depois de passar três e meio anos clinicando nos Estados Unidos.
Ele defende o desenvolvimento de atitudes de maior iniciativa na identificação das qualidades positivas especiais das pessoas (que nos fazem únicos) e também das dificuldades emocionais que se transformam em obstáculos para o desenvolvimento pessoal. E lembra da tragédia recente ocorrida em Lancaster, na Pennsylvania (onde um indivíduo de 32 anos e supostamente normal cometeu um crime bárbaro contra crianças da pacífica comunidade Amish), ponderando que esses exemplos mais grotescos despertam prontamente as pessoas para a periculosidade do outro. Segundo Saidemberg, atitudes preventivas de promoção da saúde mental poderiam impedir essa e outras tragédias.


Qual a sua especialidade na área de Saúde Mental?
Iniciei meu trabalho em psiquiatria geral no ano de 1973, durante o meu período de 3 anos de residência em psiquiatria geral e a partir de 1976 trabalhando com crianças e adolescentes, durante a minha pós graduação na área de crianças e adolescentes na Universidade de rochester, Nova Iorque. Hoje o público infanto-juvenil representa cerca de 20% dos atendimentos do consultório. Por períodos pratiquei psiquiatria infantil como atividade principal, inclusive nos dois anos e meio iniciais em que cliniquei nos Estados Unidos (de 2003 a 2005), retornando à prática de psiquiatria de adultos como atividade principal no último ano (2005/2006). Psiquiatria infantil e da adolescência é área considerada prioritária para a saúde mental da comunidade, isto ocorre nos programas gerenciados pelo governo do Estado de Nova Iorque, mas, a necessidade é universal.

A psiquiatria infantil difere muito da adulta no que diz respeito a diagnóstico e tratamento?
Os pais procuram os consultórios com maior freqüência no início do período escolar, quando estão mais atentos à adaptação e desempenho do filho na escola. A psiquiatria infantil exige um discernimento diferente porque a criança não consegue manifestar com clareza suas dificuldades e os transtornos via de regra não são tão claramente narrados pelo próprio paciente como ocorre no caso de adultos. Frequentemente, lidamos com manifestações emocionais secundárias a problemas familiares. Há crianças difíceis devido a temperamento ou devido a déficits no seu desenvolvimento. Ainda há transtornos afetivos, transtornos cognitivos e sérias manifestações psiquiátricas na infância e adolescência. Na psiquiatria da fase adulta os problemas tendem a ser mais claros e mais facilmente narrados pelos seus portadores, o discernimento está mais amadurecido e a cooperação do paciente tende a ser mais expontânea na organização e condução do tratamento.

A partir de quando é possível diagnosticar problemas mentais em crianças?
Lidamos com problemas materno infantil desde o primeiro ano de vida. Crianças que apresentam déficits no desenvolvimento motor, emocional ou intelectual e suas possíveis correlações com déficits no desenvolvimento neurológico. Problemas importantes como autismo podem ser diagnosticáveis a partir do primeiro ano de vida. Problemas de déficit de atenção ficam melhor caracterizados no início da vida escolar, mas, frequentemente eles são proeminentes muito antes, até mesmo durante o segundo ano de vida, particularmente, quando associados à hiperatividade e impulsividade. Muitas vezes não é a criança que necessita de atendimento direto, mas sim a família que vai cuidar dela. A orientação à família ajuda muito no processo.

Quais os principais transtornos identificados em crianças?
Muitas crianças podem, repentinamente, apresentar problema psiquiátrico, em função de estresse acima de sua capacidade adaptativa, principalmente relacionados a conflitos familiares. Temores noturnos, quadros fóbicos, insônia, medo, manifestações obsessivas, comportamentos ansiosos como o hábito de roer unhas, de comer cabelo e ainda comportamentos arredios ou muito agressivos como uma conseqüência de traumas emocionais ou por terem sido expostas a temas que as deixam mais inseguras. A separação de pais é um dos problemas que fazem com que algumas crianças parem de se desenvolver, regridam, percam interesse pelas coisas. Muitas vezes elas não manifestam depressão, mas podem apresentar inquietação, falta de atenção ou transtorno alimentar (que são sintomas secundários da depressão). Para completar, temos os quadros de psicose infantil que são de ocorrência baixa, mas, que necessitam pronto atendimento e rigoroso seguimento clínico.

O diagnóstico infantil é mais difícil do que o do adulto?
Sim, pois se requer muito mais dedicação do profissional na colheita e avaliação de dados. Na clínica dos adultos, muitas vezes encontramos aqueles que dão boa informação, o que é mais difícil de se obter de crianças, mesmo quando elas cooperam e até se relacionam muito positivamete na entrevista. Na pressa e superficialidade em diagnosticar, crianças acabam sendo diagnosticadas e tratadas como portadoras de um distúrbio de atenção primário, quando ele na verdade é secundário ao sofrimento emocional. Um outro exemplo é o das crianças inquietas e agressivas que são tidas como portadoras de disritmia cerebral, quando resultados do EEG mostra algum achado aleatório sem real correlação clínica. Muitas vezes as famílias pressionam para ter um diagnóstico de melhor aceitação familiar, principalmente quando a criança é encaminhada pelo pediatra ou neurologista. Os problemas orgânicos parecem ser aceitos com mais facilidade pelas famílias, pois elas não querem se sentir responsáveis ou culpadas pelo sofrimento da criança. No entanto, é preferível se ter um problema mais funcional que é passível de ser corrigido e superado com algumas poucas medidas terapêuticas.

Esses diagnósticos são bem aceitos?
A expectativa em relação ao profissional é muito distorcida. A ajuda esperada não é através da análise lógica, mas, mais do pensamento mágico. As pessoas estão frequentemente determinadas em alcançar o que esperam, mesmo que equivocadas. A falta de compreensão vem como conseqüência da falta de orientação da população sobre questões de saúde, mormente, saúde mental. As pessoas sentem-se embaraçadas diante de profissionais na área de saúde mental, exames subsidiários são exageradamente valorizados, como se imagens cerebrais e mensurações bioquímicas pudessem explicar como e porque pessoas pensam, sofrem ou agem mal. Seria o mesmo que tentar entender um programa de computação olhando-se para a placa do circuito eletrônico do computador. Prescreve-se um medicamento, há melhora de sintomas e o trabalho do profissional passa a ser percebido como sendo limitado a este procedimento prescritivo. O psiquiatra deixa de ser visto como um avaliador de problemas complexos, mas um profissional que verifica a necessidade de medicamentos. Esta expectativa prejudica o atendimento, pois o psiquiatra precisa se relacionar intensamente com o paciente para entender como foi que o problema se desenvolveu e tende a progredir. Por outro lado, a crítica ao profissional é feita em termos de um alegado atendimento superficial que resultou exatamente em “uma simples prescrição”. A própria visão mercantilista de muitos empresários da saúde e das seguradoras de saúde faz com que esta grave distorção tenda a se agravar.

Houve uma evolução no entendimento e tratamento das doenças mentais?
Houve uma evolução muito grande nos últimos cem anos. Um desenvolvimento do entendimento da doença mental, que saiu do mundo das superstições – pessoas que manifestavam esses problemas eram consideradas possuídas por entidades demoníacas - e buscou-se uma relação científica de causa e efeito. Foram descobertos os mecanismos psicológicos de defesa e adaptação, modelos de psicoterapia individual e de grupo foram elaborados. Na metade do século passado, vimos a transformação da qualidade do atendimento da saúde mental pelo mundo afora e um importante trabalho de ressocialização. A partir da década de 50, a revolução farmacológica aumentou a esperança de reabilitar psicologicamete e socialmente as pessoas com sérios transtornos mentais. Nas últimas décadas, melhorou-se em muito a compreensão do funcionamento cerebral e dos mecanismos neuroquímicos dos transtornos mentais. Todas essas fases têm sido muito importantes para o progresso da área.

E hoje, como está esta área?
O nosso principal problema resume-se na falta de integração do conhecimento, ainda a saúde mental tem sido vítima do reducionismo religioso, sociológico, psicológico, farmacológico, neuroquímico e genético. O reducionismo surge como uma reação maladaptativa de seres humanos, inclusive no caso de profissionais que valorizam a não integração do conhecimento. É baseada no corporativismo no caso de profissionais que defendem que a sua abordagem é a única relevante, também é baseada na luta pelo controle de recursos econômicos, luta essa administrada pelos empresários da saúde, que hora gostariam que algumas abordagens menos dispendiosas se tornassem em procedimentos únicos, hora gostariam que as mais dispendiosas fossem as vitoriosas, dependendo das estratégias econômicas de instituições ou de provedores de instituições, a consideração pelo paciente é um mero detalhe para a indústria da saúde. E certamente, a falta de apoio econômico para a área da saúde mental é um assunto de relevância para a comunidade considerar. Neste meio tempo, a comunidade vai continuar a ser lembrada para a ocorrência de violência, abuso de drogas e alguns crimes hediondos que nos lembram que a área de saúde mental está sendo insuficientemente utilizada e continua desguarnecida de recursos. A abordagem multifatorial e voltada para o máximo benefício para o paciente é a única que faz sentido para os clínicos. Isto requer integração do conhecimento e de condutas. É um papel importante dos profissionais de saúde mental o trabalho que visa educar a população sobre o que é anormal do ponto de vista clínico e o que é simplesmente, uma variação do normal.

O uso de medicamentos é uma boa solução para manter a vida sob controle?
Muitos preferem soluções simplificadas, mas olhar só a medicação como solução ideal não é bom. Há algumas décadas pouco se sabia como o cérebro funcionava, era o último território a ser conquistado pela área médica. Transtornos que antes eram considerados funcionais, hoje já têm alguma base orgânica mais entendida, como é o caso de psicoses e quadros depressivos. Pacientes precisam de medicamentos que melhorem a parte emocional e conduzam a uma compreensão clara da realidade. Os antidepressivos, normatizadores de humor são medicamentos que evoluíram , há muita informação disponível sobre eles e podem ser usados para tratar vários problemas emocionais e alguns que se manifestam através de sintomas físicos. A principal função da medicação é possibilitar que os pacientes tenham uma recuperação mais rápida de sintomas incapacitantes. Se usada com critério, pode ser um dos pilares fundamentais do tratamento psiquiátrico, junto com a psicoterapia. Hoje os tratamentos são mais complexos e integrados.

Em resumo, o que faz o tratamento psiquiátrico?
Desenvolve maneiras de ajudar as pessoas a melhorarem a capacidade de lidar com dificuldades de comportamento, atitudes, vulnerabilidade a estressores e adoecimento físico como consequência de dificuldades emocionais. Uma pessoa com variações afetivas em determinadas épocas da vida –alterações de humor, por exemplo - nem sempre necesita de uma abordagem psiquiátrica. Precisa haver uma razão específica para se indicar psicoterapia ou medicação. Muitas pessoas olham o psiquiatra como um confidente e não como um profissional que vai ajudá-las a se desenvolverem. Nós temos que ter em mente que muitas pessoas não possuem um parente ou amigo que se disponha a ser ou mesmo tenha condições de ser um bom confidente, além do mais, existem assuntos pessoais muito íntimos para serem revelados e examinados fora do consultório do especialista. Mas todos os problemas são importantes e eles não mudaram muito através do tempo. No passado eram mais comuns os casos de transtornos de conversão (histeria), que são menos freqüentes hoje, possivelmente pelo fato dos sentimentos serem mais aceitos e mais expressados nos tempos atuais. As mulheres adquiriram direitos importantes para que se conduzam de forma mais autônoma e isso diminui a pressão sobre elas, aliviando alguns problemas. As pessoas nos tempos atuais querem examinar seu próprio funcionamento, se preocupam mais com o desenvolvimento pessoal, são menos dadas a suprimir e reprimir suas opiniões e sentimentos. O ser humano é produto de sua sensibilidade e emoções, subordinando o desenvolvimento cognitivo às emoções e sensibilidade. Ansiedade, depressão são transtornos mais emocionais, que são também denominados de afetivos. Transtornos cognitivos são mais relacionados aos processos lógicos mentais (por exemplo: análise deficiente e idéias confusas que contribuem para uma interpretação errônea da situação). Em psiquiatria, não olhamos apenas para o problema, avaliamos o ser humano de forma abrangente.

Há exageros nos tratamentos atuais?
Ao mesmo tempo que o uso de antidepressivos é importante, temos os exageros: muitos pacientes que tomam medicamentos podem não estar passando por nenhuma avaliação mais sistematizada feita pelo especialista. O se sentir beneficiado por um medicamento não pode ser o único critério para se manter aquele medicamento. É importante que as pessoas enfrentem suas dificuldades, é comum para pessoas com transtornos emocionais desenvolverem uma expectativa exagerada a respeito dos resultados de seu tratamento psicoterápico ou psicofarmacológico. Medicamentos são necessários em alguns casos, mas, temos tendência de usar a depressão como uma justificativa para a passividade e a desistência.

O que mais leva as pessoas ao psiquiatra?
O sofrimento pela depressão ou pela ansiedade, os problemas de ajustamento e as psicoses são as razões mais comuns para uma consulta psiquiátrica. Os que têm nível educacional mais elevado procuram ajuda para melhorar sua comunicação, superar déficits em suas habilidades gerais ou para fazer escolhas. Causas existenciais estão quase sempre presente; queremos desvendar o nosso próprio mistério. Nunca as pessoas se tornaram tão interessadas no seu próprio desenvolvimento pessoal como agora. É um fenômeno da civilização atual: a busca da imagem (que é diferente da busca do desenvolvimento pessoal) e há profissionais que se dedicam a quem quer melhorar sua apresentação e o seu desempenho em algumas áreas. Esta busca tem aumentado devido às pressões do mercado de trabalho. De um modo geral as pessoas sentem-se mais pressionadas num mundo de mudanças aceleradas. Mas, em termos de mudanças de costumes, as transformações mais intensas no comportamento humano ocorreram nas décadas 60/70 deste último século.

A evolução tecnológica interfere de alguma forma na saúde mental das pessoas?
Num passado mais remoto, as pessoas estavam menos conscientes da necessidade de tomar conta delas mesmas. Queriam que o mundo cuidasse delas, havia expectativa sobre os políticos que iriam ajudá-las ou prometiam fazê-lo. As pessoas estão menos ingênuas atualmente. Houve ganhos sociais importantes na década de 20/30 do século que se foi, com leis trabalhistas, com a garantia de horas razoáveis de trabalho, previdência social para a aposentadoria, e outros avanços que se reverteriam em benefício para o ser humano. Era o ideal do lazer como resultado da tecnologia. Na realidade, o que vemos é que quanto mais se avança tecnologicamente, mais intensamente o ser humano se dedica ao trabalho. E esta dedicação crescente ao trabalho é também imposta pela escassez de empregos, e pela supressão de muitas funções antes tidas como essenciais. Os jovens sentem mais este impacto: não estão encontrando emprego, isso faz com que vivam uma moratória em seu desenvolvimento, pospondo experiências próprias da vida adulta, que terão de ser vividas mais tarde. Há bastante insegurança, as pessoas estão muito ocupadas em decifrar como a sua vida vai ser.

Quais as maiores fontes de preocupação hoje?
Hoje há mais dúvidas a respeito de carreira, porque ninguém se vê na mesma profissão para o resto da vida. Este é um momento de revisão de uma grande quantia de informação, onde as mudanças são aceleradas, algumas são boas, outras chegam a ser péssimas. O mundo não pede licença para mudar. Mas o ser humano não é diferente hoje, do que fora antes. Estamos sempre necessitando de alguns ajustes. É fácil olhar para o passado e tentar encontrar um período ideal. Às vezes achamos que houve efetivamente um período perfeito, achamos isto porque esquecemos nossas dores e aflições que se foram. Também, no passado havia muita ilusão, clichês profissionais, ficções. Independentemente de buscar ou não ajuda profissional, as pessoas precisam cuidar de seu desenvolvimento pessoal, lidar com o estresse, preservar sua humanidade, o respeito pelos outros e pela vida. Esta é a grande tarefa de desenvolvimento: buscar ser a melhor pessoa possível em relação a si próprio.


 


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